segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

NIETZSCHE - CRIAR É SE SUPERAR


Não tenho aqui a pretensão de elucidar e nem tampouco querer explicar Nietzsche (1844-1900 – filósofo alemão), uma vez que, penso que, o mesmo, por tão complexo e hermético que é, não pode ser traduzido. Penso mais: que todo aquele que tem a pretensão de traduzir Nietzsche corre também o risco de traí-lo.
Objetiva-se aqui apenas fomentar o diálogo e a problematização acerca de questões que, a meu ver, tem sido mal colocadas e/ou desvirtuadas por parte de alguns ditos filósofos pós-modernos a respeito dos principais axiomas de Nietzsche.
I - Nietzsche, embora não saibam muitos, critica a moral judaico-cristã e também os auspícios da ciência no que se refere à busca desta pela verdade. Todavia, sua crítica, em nenhum momento, o coloca na condição daquele que faz apologia às imoralidades, às libertinagens e/ou a criação de novos dogmas para serem postos como ditas verdades.

II - Sua obra o "Anticristo" não se trata de uma apologia ao ateísmo, mas de uma visão sobre o que fizeram de Deus e também de uma configuração sobre o niilismo provocado pelo Antropocentrismo ao Teocentrismo com o surgimento da era moderna. Nietzsche, por exemplo, diz-nos: "(...) eu somente creria num Deus que soubesse dançar..." 

III - Vontade de potência, em Nietzsche, diz respeito à importância da busca do homem pela sua superação enquanto ser humano, ou seja, diz respeito ao alcance da plenitude de sua humanidade. E ele nos diz: "o homem é uma ponte e não um fim... o homem é uma ponte que vai do animal para além dele mesmo... e é perigosa essa travessia..." 

IV - Ser "humano, demasiado humano", para Nietzsche, não é um Ser se tornar escravo dos seus próprios maus e/ou supostamente auto ditos bons instintos; não é se tornar escravo do seu próprio corpo, dos seus desejos, ainda que se julgando, nesse tortuoso caminho, estar seguindo em oposição férrea às ideias e/ou aos ditos ideais Platônicos. Ser “humano, demasiado humano”, para Nietzsche, frise-se: é apenas pôr-se a exercitar-se como artista, isto é, é buscar ser capaz de criar e recriar novas formas possíveis de existência. Para Nietzsche, voltar-se para a arte, para o “que fazer artístico”, para a criação de novos sentidos para a vida, já é questionar e/ou revolucionar todas as formas antigas ou modernas estabelecidas de ditas verdades.

V - Nietzsche diz-nos mais: "se criar é ultrapassar-se, a criatura deve sempre buscar ultrapassar ou prevalecer sobre o seu criador." 

VI - Para Nietzsche, todo aquele que cria valores novos, inevitavelmente destrói e/ou questiona aqueles que, anteriormente, tinham sidos criados. Entretanto, o super-homem defendido por Nietzsche não deve ser entendido como um corruptor, mas apenas como um criador de novos sentidos, de metáforas, e não como um suposto legislador de novas ditas verdades.
VII - Nietzsche, em vários dos seus escritos, fala-nos, por exemplo, da necessidade da existência de três transformações no espírito e, sob as quais, deve ou deveria passar o Ser humano, a saber:
1- o camelo;
2- o leão;
3- a criança.
Numa espécie de metáfora por Nietzsche criada, o camelo, com um número excelso de cargas sobre as costas, está representado pelos homens de cultura judaico-cristã que, sob a forma de dogmas e/ou verdades ditas eternas e imutáveis, carregam-nas e as propagam enquanto verdades eternas e/ou valores ditos absolutos.
O leão, para Nietzsche, está representado pelos homens da era moderna e/ou agora pós-moderna que, motivados pelas ideias antropocêntricas, ao mesmo tempo em que negam e esforçam-se para destruir as ditas verdades judaico-cristãs, colocam em seu lugar, também na condição de dogmas, de cientificismo, valores e/ou saberes ditos científicos.
A criança no espírito, para Nietzsche, é colocada "como um começar de novo; como uma roda rodando por si mesma; como um dizer não diante do que impede o homem de tomar sobre si a sua humanidade", que é entendido como o desenvolvimento, em si, das capacidades de questionar, de dialogar e de criar novos sentidos e valores.
Criar novos sentidos e valores, para Nietzsche, como erroneamente talvez possam pensar muitos, não diz respeito a "inventar ditas novas pessoais e/ou subjetivas verdades" e, na mesma via, se tornar escravo delas, como fazem as pessoas que possuem Camelos e/ou Leões em seus espíritos.
VIII - Para aqueles que acham que Nietzsche pregou ou prega a imoralidade, a amoralidade, a promiscuidade, a poligamia e a libertinagem, enganam-se: ele, Nietzsche, num dos seus escritos, diz-nos:
"se teus cães selvagens estão prontos, loucos para saírem de dentro de ti, querendo ladrar... é porque ainda não conheces de fato o que é o super homem..."
Em seguida, ele complementa-nos dizendo:
"não vos aconselho que mateis os sentidos, mas que haja inocência em vossos sentidos."
Em Nietzsche, procurar estar "além do bem e do mal" não é o mesmo que viver e/ou praticar atos "além do bom e do mau". Não confunda-se, por exemplo, a problematização de valores, sentidos e verdades em Nietzsche com a apologia à prática daquilo que, em qualquer sociedade, é sistematizado e/ou colocado pelos seres sociais como sendo dito atos de maldade ou crueldade. 
Isto é, Nietzsche, em nome da sua filosofia, não se tornou assassino, ladrão, pedófilo, mal-caráter, leviano, libertino, devasso, corrupto, etc., ou seja, um criminoso, uma escória humana, um mequetrefe ou uma aberração qualquer.
É fato que muitos críticos conservadores chamaram Nietzsche de louco. Para estes, Nietzsche, todavia, “humano, demasiado humano” que sempre procurou ser, apenas respondia-lhes:

"(...) O que dizem em mim ser  loucura, chamo-a apenas de saúde interior..."

domingo, 26 de fevereiro de 2017

A MÁFIA POLÍTICA NO BRASIL - Corrupção, Peculato, Lavagem de Dinheiro e Mortes nunca ou sempre mal esclarecidas.



I
Diz-se, há tempos, que existe crime organizado no Brasil. Concorda-se, é óbvio, porém em outro sentido: pensa-se sim que existe crime organizado em nosso país, mas que ele não está, em seu pleno potencial lesivo à sociedade e aos cidadãos de bem, como muitos acreditam, nas favelas, nos morros, nos guetos, nos presídios e nem tampouco em qualquer bairro de periferia onde bandidos das mais diferentes facções comandam tráficos de drogas, roubos, etc., e sim no meio político.
Explica-se: traficantes ou bandidos, quase sempre todos excluídos sociais ou destituídos de capital-cultural e/ou saber-poder; quase sempre todos à margem da vida social, ainda que aspirem, ainda que sejam usados por gente graúda para a lavagem de dinheiro e etc., não possuem condições de organização criminosa:
1-   Ao nível dos cartéis políticos;
2-   Ao nível dos mafiosos políticos;
3-   Ao nível daqueles que têm – além dos poderes econômico e financeiro – também o poder das forças de inteligência e coerção do Estado em suas mãos.
Em outras palavras, a política no Brasil, como historicamente e ainda hoje nos tem demonstrado os inúmeros casos de corrupção e mortes nunca ou mal esclarecidos, com raras exceções, sem sombra de dúvidas:
1-   É o único e real crime organizado que existe;
2-   É a verdadeira máfia que, há séculos – em nome da preservação de um status quo burguês – atua no Brasil.
Em nome da política, isto é, por meio de políticos mafiosos (que são quase todos em nosso país), por exemplo, manda-se matar ou prender; destruir ou refazer; retirar do poder ou reeleger sem a interveniência e/ou com a conveniência de qualquer outro dito poder.
Nenhum poder, não somente no Brasil, uma vez que o mesmo está e historicamente sempre esteve atrelado ao poder econômico – embora possa haver quem pense diferente – é superior ao poder da máfia política.
Isto é, não existe nada de mais nefasto a qualquer sociedade do que o poder político quando este é exercido, como quase sempre tem sido, por e/ou em nome das “flores do mal e/ou dos chamados bandidos do colarinho branco”.
Nietzsche (1844-1900) estava certo quando, numa crítica feroz à política alemã do séc. XIX, visando-nos alertar sobre a essência da classe política, escreveu:

"Um político divide os seres humanos em duas classes: instrumentos e inimigos". (Friedrich Nietzsche)


II
Perdemos, nos últimos dias, como se sabe, através de um dito “acidente” de avião, o renomado Ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavaschi, relator da Operação Lava-Jato.
Teori – especula-se que tenha sido este o motivo de sua morte – tinha sob sua responsabilidade a análise de uma gama incomensurável de provas contra políticos corruptos de vários partidos políticos (conseguidas as mesmas através de delações premidas de executivos de grandes empresas envolvidos em propinas nos governos FHC, LULA e DILMA). Muitos desses mesmos políticos investigados e réus na Operação Lava-jato são hoje ministros no governo TEMER.
O fato é que se, como dizia Hegel (o chamado filósofo do saber absoluto), a verdade é histórica, ou seja, se constrói dialeticamente no tempo, pode-se também com propriedade dizer que a morte de Teori – assim como as de Getúlio Vargas (dita suicídio), Juscelino Kubitschek (dita acidente de carro), PC Farias (dita suicídio), Ulysses Guimarães (dita acidente de avião), Lucas Gomes Arcanjo, o policial que denunciou Aécio Neves por narcotráfico em Minas Gerais (dita suicídio), Eduardo Campos (dita acidente de avião) e tantas outras no meio político – provavelmente nunca será devidamente esclarecida.
E isso devido a vários fatores, dois deles, obviamente, relacionados à existência do temor que hoje se tem em relação à máfia política, a saber:
1 – A imprensa, principalmente as grandes, por meio dos seus principais jornais, embora sejam grandes as evidências de crime político, temendo represálias, tentam a todo custo não falar de maneira substancial sobre o caso. Os apresentadores dos seus respectivos telejornais, temerosos de que algo parecido possa acontecer com eles ou com membros das suas famílias, se limitam a falar apenas em “acidente” e nada mais;
2 – Os juízes, não somente do supremo, diante da impotência perante a máfia política brasileira, assim como os demais órgãos de justiça e investigação, veem-se, mesmo tentando demonstrar à opinião pública o contrário, em estado de coerção, ou seja, atemorizados e, na mesma via, receosos de que algo da mesma natureza também possa vir a acorrer-lhes.
Em outras palavras, a máfia política Brasileira, com a dita “morte acidental” de Teori Zavaschi, ao que nos parece, sente-se hoje forte, soberana e acima de qualquer outro poder: mostra-se como aquela que Deu a reposta a todos àqueles que pensavam e ainda pensam em levar a chamada operação lava-jato até o fim.
Se você tem dúvidas, pense no tenebroso fato de que, dias após o enterro do magistrado, o presidente Michel Temer, sob pressão da máfia política a qual faz parte, aproveitando-se da fraqueza do STF, nomeou Moreira Franco, mais um investigado na operação Lava-jato, como ministro, dando-lhe o chamado foro privilegiado.
III
Outro fato que merece a nossa reflexão é a chamada crise financeira pela qual vem sendo dito há meses estar passando o Estado do Rio de Janeiro, solicitando ajuda ao governo federal.
Na verdade, o que talvez poucos saibam, é que a máfia política é capitalista, isto é, só inventa doenças as quais já diz ter o remédio para a cura.
O que se quer dizer é que, como nos mostra a história das privatizações, não somente no Brasil, não existe nem nunca existiu crise no governo do Estado do Rio de Janeiro: não no tamanho daquela alardeada pelas mídias prostitutas. O que existiu foi corrupção, como ainda continua havendo.
A dita crise do Rio de Janeiro foi inventada, exclusivamente, por meio de atrasos nos pagamentos dos servidores, e também por meio do não repasse de verbas para a saúde e a educação, visando-se, assim, única e exclusivamente, colocar o povo a favor da privatização da CEDAE, empresa estadual de fornecimento de água, e que, como se sabe – em meio aos problemas hídricos e energéticos pelos quais vem passando o mundo – vale tanto quanto a PETROBRAS. Ou seja, água e petróleo são tidos hoje como ouros mundiais. Vários grupos de empresários brasileiros e estrangeiros estão há tempos de olho nessas estatais.
Enfim, voltando-se ao caso Teori, a máfia política, em pleno alvorecer do séc. XXI, mesmo em face da atenção da opinião pública global, desde o estouro dos casos de corrupção e da questionada e dita antidemocrática assunção à presidência de Michel Temer em lugar de Dilma Rousseff, sem qualquer aparente temor:
1-   Colocou, como mais uma das tantas vezes na história da política brasileira, as asas de fora. Isto é:

2-   Mostrou ao mundo as atrocidades de que é capaz e de que, como não deixa mentir a própria história, ao que também se subentende, orgulha-se de ser.