quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Os Diferentes, Feios e/ou Belos Exclusivos

I

Os diferentes são aqueles que, nas sociedades capitalistas pós-modernas – e são a grande maioria –, estão fora dos padrões ditatoriais estéticos do que a política de consumo da Indústria Cultural sistematiza como sendo ditos padrões universais de beleza.

Eles, esses diferentes, são os homens e/ou mulheres reais, concretos (a), diferentes dos (a) da ficção.

Diferente, nesse sentido, não é, de fato, quem, ou aquele que, por um motivo e/ou vontade deliberada qualquer, pretenda sê-lo ou sê-la: 
1- Ser diferente é ser o que se é, enquanto ente singular; 
2- Ser diferente é ser um feio, belo e/ou um lindo único, exclusivo, fora dos padrões estéticos capitalistas universais e/ou globais de beleza impostos pela indústria de consumo do capitalismo.
Isto é, frise-se:

"Aquele que pretende ser diferente, feio e/ou "belo exclusivo", é apenas o imitador de um ser diferente, de um feio e/ou de um belo exclusivo, mas, nunca, de fato, um ser diferente, feio e/ou belo exclusivo."

Diferente, feio e/ou belo exclusivo, é todo aquele que, ainda que inconsciente sobre a sua diferença, feiura e/ou beleza exclusiva, contribui, de alguma forma, para que o espaço-tempo onde ele supostamente esteja alocado, enquanto corpo dito estranho: 
1- Não perca o seu potencial enriquecedor; 
2- Não perca a possibilidade de poder ser vislumbrado por outro ângulo, por outra maneira ou modo de ver; 
3- Não perca a possibilidade de poder ser tomado, enquanto interação social, por um espaço-tempo de diálogos, como forma de se abominar a violência, entre todos os diferentes nele alocados; 
4- Não perca a capacidade de, por ser um espaço-tempo de coexistência, promover-se essa mesma interação; 
5- Não perca a capacidade de se tolerar os outros diferentes, feios e/ou belos exclusivos que nesse mesmo espaço supostamente estejam.

Pensa-se aqui que:

"Só onde (no espaço-tempo) existem seres humanos diferentes, feios e/ou belos exclusivos, o amor verdadeiro pode surgir, permanecer e se tornar o valor supremo de afirmação da vida."

Os diferentes, feios e/ou belos exclusivos estão todos aí: 
1- Os altos demais; 
2- Os pequenos ao extremo; 
3- Os belos diferentes; 
4- Os belos maltrapilhos; 
5- Os com narizes muito finos; 
6- Os com narizes muito largos;
7- Os com narizes normais onde reinam narizes grandes ou pequenos; 
8- Os magros; 
9- Os gordos; 
10- Os sem cabelo; 
11- Os com cabeleiras; 
12- Os muito bem vestidos; 
13- Os vestidos de farrapos; 
14- Os tímidos; 
15- Os extrovertidos; 
16- Os trabalhadores; 
17- Os sonhadores; 
18- Os esperançosos; 
19- Os realistas; 
20- Os que amam e não são amados; 
21- Os que são amados e não amam; 
22- Os que gostam de cantar; 
23- Os que preferem ouvir; 
24- Os que vivem para trabalhar;
25- Os que trabalham para viver e etc.

Como já antes dito, mas que aqui ainda faz-se necessário redizer, diferente de fato não é quem, nem tampouco aquele que, movido por um objetivo ou desejo qualquer, pretende ou pretenda sê-lo. Isto é, frise-se:

"Aquele que pretende ser diferente é apenas o imitador de um ser diferente, mas nunca um ser diferente de fato." (Artur da távola)


II - CONCLUSÕES


Existem muitas formas de desumanização e, uma delas, talvez a mais crucial, seja aquela que está sistematizada no desrespeito às diferenças, na medida em que esse desrespeito - no sentido micro - leva o indivíduo para longe da sua capacidade de coexistir e, consequentemente, para longe da possibilidade de aprendizagem, crescimento e desenvolvimento pessoal; no sentido macro, leva a sociedade para xenofobismos, nacionalismos exacerbados, genocidismos, biocidismos, apartheids, exclusão socioeconômica e para formas unilaterais e ortodoxas de ver o mundo, culminando em guerras, conflitos armados, ódio e posições políticas e/ou religiosas radicais.

Todavia, não se pode e não se deve perder a esperança, ainda que, para muitos, ela, a busca pelo respeito às diferenças soe apenas como sendo mais uma grande utopia. Ou seja, é preciso que ainda se acredite que o homem pode qualitativamente transformar-se. É preciso que se acredite que, como nos diria Nietzsche, "o homem pode e precisa ser superado".



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* Esse artigo é parte integrante do livro "A ARTE DE COEXISTIR: RESPEITO ÀS DIFERENÇAS" à venda pela livraria cultura.