quinta-feira, 31 de julho de 2014

O EXERCÍCIO DA ARTE ENQUANTO PROCESSO DE ELEVAÇÃO E/OU SUPERAÇÃO HUMANA - NIETZSCHE


O exercício da Arte, embora não seja do conhecimento de muitos, coloca o homem em sintonia com a sua humanidade, com a sua condição de homem de fato, de ser racional. 

Pode-se ainda, sem exageros, dizer que é por meio do exercício da arte que o homem se humaniza e/ou caminha rumo à construção da sua humanidade.

Nietzsche, por exemplo - através da sua filosofia da superação humana -, coloca o valor da Arte, para o homem, exatamente nesse contexto, ou seja, no da condição para a elevação e/ou superação por meio do exercício dela.

Para ele, o que há de grande valor no homem é o fato dele (diferentemente de todos os outros animais, que são seres completos e/ou predeterminados por suas naturezas) ser uma ponte e não um fim. Isto é, o fato dele, do homem, ser uma passagem e não um acabamento e, portanto, por ser algo que precisa ser construído.

Todavia, na mesma medida, Nietzsche faz uma crítica severa à sociedade de sua época, pelo fato da mesma, segundo ele, ter feito com que os homens abandonassem e/ou abortassem às suas capacidades criativas e se tornassem, numa outra via paradoxal às suas racionalidades, escravos das coisas que eles mesmos criavam e criam, impedindo, assim, que todos os homens, no sentido macro e genérico do termo, evoluíssem, evoluam e/ou se superem enquanto indivíduos e espécie.

Escreveu-nos Nietzsche, no seu conhecido livro “Assim falou Zaratustra” sobre o Ser homem, dizendo:

“Percorrestes o caminho que medeia do verme ao homem, e ainda em vós resta muito de verme. Noutro tempo foste macaco e, hoje, o homem é mais macaco do que todos os macacos. (...) O homem é um ser superável. O que fizeste para superá-lo?” (Nietzsche, Friedrich. Assim falou Zaratustra. P. 25)

Ou seja, para Nietzsche “criar é ultrapassar-se e, sendo assim, a criatura deve sempre buscar prevalecer sobre o seu criador”.

Para ele, o homem deve amar o ato de conhecer e, nesse sentido, ele, esse mesmo homem, ao buscar conhecer, deve também desprezar o próprio eu que constrói, ou seja, o homem deve, buscando sempre a sua superação, ser capaz de criar um caos dentro de si por meio do exercício ou da prática da arte. Escreveu-nos também ele:

“Eu vos digo: é preciso ter um caos dentro de si para poder dar luz uma estrela cintilante... tenha um caos dentro de vós. O criador procura companheiros, não procura cadáveres, rebanhos... procura colaboradores que escrevam valores novos nas tábuas novas. (p. 28-33)

Para Nietzsche, como se percebe, a arte não é somente o que permite ao homem transformar a vida, mas também o que lhe permite poder, por meio dela, superar-se ao renová-la por intermédio do exercício pleno – que para ele é também vital – do seu processo criativo. Ou seja, o exercício e/ou a prática da arte, para ele:

1-   É o mesmo que a afirmação da vida;
2-   É o mesmo que afirmação das potencialidades humanas;
3-   É o mesmo que vontade de potência;
4- É o mesmo que a afirmação da vontade necessária de superação constante rumo ao que ele convencionou chamar de super-homem, o chamado super-homem Nietzschiano.

Para Nietzsche, fazer arte é potencializar a própria vida, ao acrescentar-lhe, por meio dela, novos valores e, nesse sentido, quebrar as velhas tábuas dos mesmos.

Enfim, a arte, antes, durante e depois de tudo, foi, é e será sempre um mecanismo de afirmação da vida e/ou, num outro viés, o não exercício dela, um fator de negação e/ou aceitação da morte.

Nas palavras de Ernest Fischer, complementando as apreciações de Nietzsche:


“(...) Enquanto a própria humanidade não morrer, a arte não morrerá.” (FISCHER, Ernest. A necessidade da arte. 6ª Ed. Rio de Janeiro. Zahar, p. 245-254)

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