O exercício da Arte, embora não seja do conhecimento de muitos, coloca o homem em sintonia com a sua humanidade, com a sua condição de homem de fato, de ser racional.
Pode-se ainda, sem exageros, dizer que é por meio do exercício da arte que o homem se humaniza e/ou caminha rumo à construção da sua humanidade.
Nietzsche, por exemplo
- através da sua filosofia da superação humana -, coloca o valor da Arte, para o
homem, exatamente nesse contexto, ou seja, no da condição para a elevação e/ou
superação por meio do exercício dela.
Para ele, o que há de
grande valor no homem é o fato dele (diferentemente de todos os outros animais, que são
seres completos e/ou predeterminados por suas naturezas) ser uma ponte e não um
fim. Isto é, o fato dele, do homem, ser uma passagem e não um acabamento e,
portanto, por ser algo que precisa ser construído.
Todavia, na mesma
medida, Nietzsche faz uma crítica severa à sociedade de sua época, pelo fato da
mesma, segundo ele, ter feito com que os homens abandonassem e/ou abortassem às
suas capacidades criativas e se tornassem, numa outra via paradoxal às suas
racionalidades, escravos das coisas que eles mesmos criavam e criam, impedindo,
assim, que todos os homens, no sentido macro e genérico do termo, evoluíssem,
evoluam e/ou se superem enquanto indivíduos e espécie.
Escreveu-nos Nietzsche, no
seu conhecido livro “Assim falou Zaratustra” sobre o Ser homem, dizendo:
“Percorrestes o caminho que medeia
do verme ao homem, e ainda em vós resta muito de verme. Noutro tempo foste
macaco e, hoje, o homem é mais macaco do que todos os macacos. (...) O homem é
um ser superável. O que fizeste para superá-lo?” (Nietzsche,
Friedrich. Assim falou Zaratustra. P. 25)
Ou seja, para
Nietzsche “criar é ultrapassar-se e, sendo assim, a criatura deve sempre buscar prevalecer
sobre o seu criador”.
Para ele, o homem deve
amar o ato de conhecer e, nesse sentido, ele, esse mesmo homem, ao buscar
conhecer, deve também desprezar o próprio eu que constrói, ou seja, o homem deve,
buscando sempre a sua superação, ser capaz de criar um caos dentro de si por
meio do exercício ou da prática da arte. Escreveu-nos também ele:
“Eu vos digo: é preciso ter um
caos dentro de si para poder dar luz uma estrela cintilante... tenha um caos
dentro de vós. O criador procura companheiros, não procura cadáveres,
rebanhos... procura colaboradores que escrevam valores novos nas tábuas novas.
(p. 28-33)
Para Nietzsche, como
se percebe, a arte não é somente o que permite ao homem transformar a vida, mas
também o que lhe permite poder, por meio dela, superar-se ao renová-la por
intermédio do exercício pleno – que para ele é também vital – do seu processo
criativo. Ou seja, o exercício e/ou
a prática da arte, para ele:
1- É
o mesmo que a afirmação da vida;
2- É
o mesmo que afirmação das potencialidades humanas;
3- É
o mesmo que vontade de potência;
4- É o mesmo que a afirmação da vontade necessária de superação constante rumo ao
que ele convencionou chamar de super-homem, o chamado super-homem Nietzschiano.
Para Nietzsche, fazer
arte é potencializar a própria vida, ao acrescentar-lhe, por meio dela, novos
valores e, nesse sentido, quebrar as velhas tábuas dos mesmos.
Enfim, a arte, antes,
durante e depois de tudo, foi, é e será sempre um mecanismo de afirmação da
vida e/ou, num outro viés, o não exercício dela, um fator de negação e/ou
aceitação da morte.
Nas palavras de Ernest
Fischer, complementando as apreciações de Nietzsche:
“(...) Enquanto a própria humanidade não
morrer, a arte não morrerá.”
(FISCHER, Ernest. A necessidade da arte. 6ª Ed. Rio de Janeiro. Zahar, p.
245-254)
Nenhum comentário:
Postar um comentário