sexta-feira, 2 de novembro de 2012

MESTRES, DOUTORES E/OU PÓS-DOUTORES SÃO REIS (?)



EM TERRA DE ANALFABETOS, SEMIANALFABETOS E GRADUADOS AQUELES QUE POSSUEM MESTRADO, DOUTORADO E/OU PÓS-DOUTORADO SÃO REIS (?)



Nas sociedades capitalistas ocidentais pós-modernas, onde impera a obsolescência programada; onde impera a produção desmedida de informação e conhecimento a cada seis meses, num ritmo cada vez mais alucinado; num ritmo em que quase tudo que é tido como novo se torna velho quase ao mesmo tempo, soa-nos como um disparate falar em cursos de Mestrado que durem dois anos e, pior ainda, de Doutorado que durem quatro.

Um indivíduo que entra nesses cursos almejando sair deles mais sábio, em muitos e não raros casos, sai um ignorante com diploma; da mesma forma que um indivíduo que entra nesses cursos almejando contribuir para o desenvolvimento do conhecimento, ao concluir sua dissertação ou tese, apenas aumenta o lixo cultural.

Explico-me: nas sociedades do capital, tudo é mercantilizado, inclusive o que dizem ser o “saber”. Nesse sentido, os intelectuais pós-modernos, na sua grande maioria, transformaram-se numa especie de prostitutos intelectuais, ou seja, precisam criar e sistematizar "hierarquias de e/ou do saber", através de títulos e diplomas, para poderem vender seus “produtos”, seus "saberes enlatados".

Numa outra via mais trágica, essa "prostituição intelectual" se dá quando esses indivíduos somente buscam esses cursos para poderem receber aumentos de salários, gratificações, etc.

Além disso, e infelizmente, nas sociedades subdesenvolvidas do capital, o que se procura estudar e/ou pesquisar, através da maioria desses cursos, é o que já está obsoleto em outros países economicamente desenvolvidos.

Se alguém tem alguma dúvida, perguntem-se quantas universidades, hoje, nesse país, exportam tecnologia ou conhecimento de ponta. Para se fazer uma linha de Metrô, por exemplo, assim como esse próprio meio de transporte, é preciso importar tudo da Alemanha e/ou mesmo da China.

Poder-se-ia, aqui, enumerar uma série desses exemplos. Todavia, isso talvez pudesse fazer parecer que não sou um brasileiro e que estou zombando do nosso povo. Não, nem de longe me passou isso pela cabeça…

O que se quer dizer é que, nesse país, assim como em tantos outros da América Latina, títulos de Mestre e de Doutor se tornaram sinônimos de sabedoria quando, na verdade, hoje, não passam de "mitos", assim como mítica também se tornou a ciência, ao erigir-se prometendo superar o teocentrismo e a metafísica (filosofia) e, irônica e tragicamente, caindo no pragmatismo e/ou tecnicismo de raízes positivistas, com bases Cartesianas.

1- Mitos porque a internet está aí, disponível para quem puder e/ou quiser pesquisar e aprender em tempo real, criando redes de interação;

     2 - Mitos porque quase ninguém tem mais tempo para ler um livro ou mesmo uma tese de quinhentas páginas, repleta de termos técnicos;

  3 - Mitos porque quase ninguém tem mais paciência para redundâncias, hermetismos e prolixidades acadêmicas;

4   4 - Mitos porque, quanto mais a gente sabe um assunto, menos a gente precisa escrever e/ou falar sobre ele.

Isto é, no mundo de hoje, é preciso saber dizer, com a mesma qualidade e complexidade, em no máximo três páginas, o que um mestre e/ou um doutor precisaria dizer em quinhentas ou mil, sob o formato de uma dissertação ou tese.

E essa questão não é exatamente a da suposta diferença de qualidade, mas do desenvolvimento de uma outra capacidade imprescindível no mundo pós-moderno: o poder de análise e síntese.

Os intelectuais dessas sociedades, além de não possuírem o poder de análise e síntese, trazem, na prática acadêmica, os ranços históricos do “esquerdismo”, tornando-se críticos ao extremo e, consequentemente, na mesma proporção, "incompetentes tecnicamente".

Se você ainda está cético em relação ao que está sendo dito aqui, pense no fato de que uma das teorias que mais revolucionaram a humanidade, a da bomba atômica, por exemplo – deixo clarificado, todavia, que não sou a favor do uso dela, sob qualquer hipótese – foi e tem sido difundida pelo mundo em, no máximo, duas páginas. E não é preciso ser um expert para entendê-las: bastam conhecimentos superficiais de física e química. Não que a teoria, em si, não seja complexa, ela é, mas foi socializada - não me perguntem por quem - também a partir do poder de análise e síntese, sob as bases do pragmatismo Norte Americano.

Todos aqueles que já passaram por uma universidade pública/latina, entendem bem o que eu estou falando: criticar o sistema e nunca apresentar soluções parece, nesses meios, ser tido também como sinônimo de “ampla sabedoria”.

Lembro-me de professores que tive nos cursos de graduação e Pós-graduação que não passavam de seres completamente limitados, cativos em suas áreas específicas de saber e ignorantes para o todo, para o tempo real, para o "aqui agora", para as dinâmicas sociais diuturnas e cotidianas, para a árvores e a floresta.

Sem querer me engrandecer, nem tampouco querer transparecer algum complexo de superioridade, dado que assim possa parecer, ao dizer o que vou aqui dizer, certa vez apresentei um trabalho a um professor sobre os conceitos de "liberdade e igualdade em Norberto Bobbio", e o prof. escreveu no trabalho que não conhecia o autor, mas me deu (10) dez.

Esse fato ocorreu-me várias vezes no Brasil: muitos deles não sabiam que eu tinha vivido alguns anos na Europa, por meio de intercâmbios, e que também era um rato de biblioteca.

Com esse discurso, todavia, não quero ser, aqui, mal compreendido e/ou interpretado como aquele que “disse que os cursos de Mestrado e Doutorado não valem nada”, mesmo porque, agindo assim, estaria jogando pedras no meu próprio telhado.

Cursos de Mestrado e Doutorado valem... E valem muito: só que, aqueles conseguidos aqui no Brasil e/ou na América Latina, perante à sociedade Global, com raras exceções, como os da Uerj, Ufrj, Uff, Ucam, Puc, Usp e poucas outras, no mundo de hoje, nada e/ou quase nada valem.

Na área da educação, por exemplo, o atraso chega a ser tão catastrófico e disparatioso que - acredite-se ou não - ainda existem cursos de graduação e, mesmo de pós-graduação, que ainda possuem disciplinas como "métodos e técnicas de ensino", ou seja, que ainda partem da premissa de que os sujeitos da educação (professores e alunos) são "objetos da educação", como numa linha de montagem taylorista/fordista ou neotecnicista.

Na área médico/biológica esse atraso é naturalmente visível: são variados os casos de mortes provocadas por erros médicos grosseiros, como o caso, por exemplo, de uma jovem mulher que chegou grávida num determinado hospital da baixada e, sendo diagnosticada como possuidora de um mioma, teve, pelos médicos, o seu útero e feto arrancados;

Na área de exatas, essa... nem me fale: alguém conhece algum produto de alta tecnologia criado e desenvolvido, em sua completude, por aqui? Mesmo na robótica, aqueles produzidos pela Coope/Ufrj, são os dos mais retrógrados se comparados com os produzidos no Japão, EUA e outros. Todavia, um simples curso de MBA nessa instituição "pública/que cobra do povo" não sai por menos de (10.000) dez mil dólares;

Na área do direito, vislumbre-se a quantidade de advogados formados que não conseguem passar na prova da OAB. Nesse caso, pergunta-se: serão os candidatos que estão realmente desqualificados ou então o conteúdo exigido na prova da OAB que está atrasado, caduco na sua teoria e nos seus métodos que não privilegiam o aprender a pensar, mas somente e apenas o aprender pensamentos?

Quando pensamos que o resultado de uma causa qualquer, justa ou injusta, segue apenas o princípio de quem pode pagar e corromper, entendemos o que é esse atraso, principalmente quando pensamos nas questões éticas e morais.

O problema da exclusão social e econômica, no Brasil e na América Latina, tem raízes históricas de exclusão cultural, onde a educação, politicamente falando, nunca foi levada a sério, nunca foi levada como deveria.

Instituições como o CNPq, específicas para o financiamento de pesquisas, se tornaram clientelistas e, embora muitos não acreditem e/ou não queiram ver, estão agindo - ao conceder bolsas de Mestrado e Doutorado majoritariamente para projetos de pesquisa em instituições de ensino superior PÚBLICAS - andando na contramão do desenvolvimento técnico e científico do nosso país. 

Perguntem-se e respondam-se as seguintes questões:

1- Alguém já viu por aí, em alguma instituição comunitária, em algum gueto qualquer, algum Mestre e/ou Doutor, que foi sustentado pelo pelo CNPq, com verbas públicas, durante anos, envolvido em alguma pesquisa, dando um curso gratuito para os "excluídos do saber"?;

2- Alguém já viu por aí esses Mestres e/ou Doutores fazendo chegar aos excluídos, aos escravos assalariados do capital, conhecimentos gratuitos sobre educação financeira que possam libertá-los dessa condição?;

O que se quer dizer, ou melhor, indagar, é: 

"Ora, se os Mestres e/ou Doutores dessas sociedades, no que diz respeito ao desenvolvimento técnico e científico, estão atrasados, ultrapassados, retrógrados em ralação a outras nações e, na mesma medida catastrófica, se esses mesmos mestres e/ou doutores, já que foram financiados pelos excluídos, não fazem chegar os seus parcos saberes "pesquisados" aos próprios excluídos, que os pagaram, através de impostos, para tê-los, para que então, nessas sociedades, servem os ditos tais Mestres e/ou Doutores?" 

Sem respostas...

E esse processo é ainda mais trágico: esses Mestres e/ou Doutores, depois de terem sido financiados com o dinheiro do povo para "pesquisar", enquanto esse mesmo povo, como escravo, só trabalha, ainda, depois de formados, vão receber salários para vender, ao próprio povo, aquilo que lhes foi dado de graça pelo próprio povo por meio do pagamento de impostos.

Esse fato está dado porque, os Mestres e/ou Doutores, financiados por instituições públicas como o CNPq, Faperj, etc., depois de formados, vão vender suas aulas não somente nas instituições publicas e de ensino, mas também nas privadas ou particulares.

Pergunta-se: 

"Não deveriam os Mestres e/ou Doutores, por uma questão de justiça e/ou ética, darem aulas gratuitas nas instituições públicas até devolverem aos cofres públicos o que retiraram do CNPq e/ou então pagarem ao mesmo CNPq, o mesmo valor dele retirado, corrigido, ao venderem seus servições nas instituições privadas de ensino?" 

Instituições como o CNPq, Faperj, etc., pensa-se, deveriam começar a financiar pesquisas e pesquisadores já no segundo seguimento do ensino fundamental, no ensino médio e na graduação, evitando assim a evasão educacional e, nesse sentido, aumentando também a vida útil do próprio pesquisador.

Existem problemáticas nesse universo da juventude que precisam de atenção redobrada, no que diz respeito ao valor e ao sentido do trabalho, das concepções éticas, da exclusão social e econômica, da necessidade de educação financeira, do entendimento de direitos e deveres e das concepções referentes à liberdade e à igualdade, numa sociedade Individualista e Meritocrática, justamente por ser capitalista.

Todo jovem não deveria ser, somente, como dever de todo cidadão - salvo exceções relativas à idade - obrigado a servir às forças armadas e também a votar, mas, também, objetivando o desenvolvimento tanto do país, quanto o do jovem estudante/pesquisador, envolvido em algum projeto de pesquisa, que tivesse como foco a resolução de problemáticas locais e planetárias.

O caso do atraso tecnocientífico do Brasil e da América Latina, hoje, pode e deve-se dizer, tem se dado não somente por falta de verbas, mas porque Mestres e/ou Doutores não deveriam ser concebidos como "profissões", mas sim como "missões sociais, objetivando a equidade social e econômica em escala planetária"; e não tidas como possibilidades para a obtenção de "prestígio, status e poder".

Infeliz e catastrófica conclusão: nessas sociedades, "todos ganham", porque somente quem perde é o povo; só quem perde são os excluídos - em escala global... Planetária.

Certos cursos de Mestrado e/ou Doutorado, no Brasil, fazem-nos lembrar dos axiomas de "Hannah Arendt", especificamente àqueles sobre "as duas formas inautênticas de aparição do ser", presentes nas sociedades ditas modernas:

1- "Pelo que dizem que pensam"; e 2- "Pelo que dizem que fazem", por meio de ditos títulos ou diplomas, mascarando, na essência, o que o ser realmente é, enquanto "alma"; mascarando o que o ser realmente é, além do seu espírito, o chamado espírito "cartesiano", centrado no "penso, logo existo", traduzido e sistematizado, na presente era pós-moderna, como a mais pura "arte racional da dissimulação” e que, muitos, ideologicamente, preferem chamar apenas e simplesmente de "inteligência emocional". (Arendt, Hannah, 1971 - A vida do espírito.)

P.S ESSE TEXTO É PARTE INTEGRANTE DO LIVRO "ONDE E COMO NASCEM OS INTELECTUAIS", À VENDA PELA WWW.AMAZON.COM NOS EUA, EUROPA, ÍNDIA E JAPÃO, E DISTRIBUÍDO NO BRASIL PELA "ATSOC EDITIONS - EDITORA" http://atsoceditions.blogspot.com

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