DIREITA,
ESQUERDA, PROMISCUIDADE POLÍTICA E EDUCAÇÃO - INTRODUÇÃO À MISÉRIA DA PEDAGOGIA
I
Não se pode, hoje, no Brasil, mais
falar da existência de uma divisão radical entre modelos políticos de Esquerda
e de Direita, por uma simples razão: ambas as principais ideologias (PT e PSDB)
estão corrompidas em suas essências políticas.
Caso se tenha alguma dúvida, pense-se
sobre o fato de que, hoje, quase nenhum candidato dito de Direita (não somente
em nosso país) ousaria ter um discurso e/ou uma prática política radical em sua
direção, assim como também não teriam os ditos de Esquerda, com raras exceções
(como o PSTU e PC do B, etc.).
Ou seja, na mesma medida em que os
governos de Direita privatizam Estatais, reduzem o Estado a mínimo e deixam
agir livremente os mecanismos de mercado, criam também - no lugar de políticas
públicas - medidas assistenciais paliativas e/ou, num outro viés, estimulam à
sociedade a se organizar, mediante o fomento à criação de ONGs, Organizações
religiosas, etc., para poderem cuidar dos ditos excluídos sociais que o próprio
capitalismo fabrica.
No que se refere aos muitos governos
ditos de Esquerda, não somente o PT, o processo, de forma inversa, tem sido
quase o mesmo: na mesma proporção em que se criam políticas públicas; na mesma
proporção em que se ampliam os investimentos em educação e/ou que se ampliam as
instituições de ensino ditas públicas, na outra, paradoxalmente, também
fomenta-se o desenvolvimento e a sistematização dos princípios e valores
capitalistas, não somente por meio do incentivo ao consumo, transformando o
cidadão num consumidor, mas também por meio das políticas de transformação de
proletários em empreendedores, como hoje tem ocorrido no Brasil.
Essas distorções e/ou promiscuidades
ideológicas, embora também não saibam muitos, por mais absurdo e surreal que possa-nos
parecer – dizem alguns analistas - fazem parte do atual jogo político não
somente nacional, mas também global.
Alguns disparates, todavia, impossíveis
de se entender nos governos ditos de Esquerda aqui no Brasil, precisam ser
discutidos. Por exemplo, existem várias universidades públicas que, hoje, não
passam de incubadoras de empresas ou organizações capitalistas transnacionais.
Além disso, tornaram-se comercializadoras sistemáticas de diplomas de cursos de
pós-graduação.
Pergunta-se: Como pode uma instituição
que se diz federal e/ou estadual (públicas), como a UFRJ e tantas outras,
cobrar cerca de 15.000 (QUINZE MIL DÓLARES) por um único dito curso de Mestrado
profissional, os chamados MBAs? Isso sem falarmos também nos cursos de
especialização que, na maioria das mesmas, também são pagos.
II
No que se refere especificamente à
questão educacional, penso que, o problema mais grave, hoje, não está somente
na questão da volta aos processos de privatização, sejam estes com a redução de
investimentos públicos no setor, sejam com novos fomentos à proliferação de
novas universidades privadas, mas, também, na transformação - via processos de
socialização - dos valores capitalistas, além de conteúdo-ético de Estado,
também em conteúdo-ético-pedagógico das instituições de ensino.
O que talvez muitos que se dizem de
Esquerda ainda não saibam é, que, hoje, o capitalismo, diferentemente dos
tempos de Marx, antes mesmo de criar produtos ou serviços para serem
comercializados, cria primeiro os seus respectivos públicos-consumidores.
Nesse país, como em quase todos do
chamado terceiro mundo, materialmente e/ou estruturalmente falando, o número de
pessoas ditas pobres, proletárias, excluídas sociais, são muito maiores que as
dos ditos donos dos meios de produção da produção social material da
existência. Todavia, se pensarmos por meio do ponto de vista superestrutural,
por meio do que se refere aos princípios e valores, ou seja, se invertemos o
conceito de sociedade civil como o fez Gramsci, especificamente no caso do
Brasil, veremos que o número de pessoas que, apesar de excluídas sociais
(proletárias), pensam e/ou agem como capitalistas são muito maiores.
A validade inconteste dessa premissa
está no fato de que, se ela fosse pífia, em vésperas da eleição presidencial de
2014, o povo brasileiro não teria ficado tão divido entre eleger governantes do
PSDB, que são de Direita (neoliberais), e os do PT, que se dizem de Esquerda,
ou seja, dos trabalhadores.
Verdade seja dita: o governo do PT, ao
fomentar e incentivar o empreendedorismo entre os proletários, visando, por
esta via, diminuir as estatísticas de desemprego e, na mesma medida, vendendo
aos pobres a ilusão de alcance da inclusão social por meio da transformação de
proletários em microempresários, deu um tiro no próprio pé; se autossabotou;
isto é, cortou e/ou tem cortado as asas da própria utopia Marxista na América
Latina.
III
Diante dessa realidade e cenário
ultrajante de promiscuidade ideológica e política, torna-se imprescindível
repensar os modelos ditos de educação que até hoje tem-se tido no Brasil, ao
que já perguntamos:
“A
educação tem cumprido de fato o seu papel de contribuir para a construção dos
processos de humanização e superação humanas (tanto no sentido singular quanto
enquanto espécie) ou, num outro trágico e catastrófico viés, apenas sistematicamente
servido como égide para formar e/ou formatar sujeitos, em diferentes espaços-tempo,
nas doutrinas Liberais (formação e/ou formatação de mão de obra barata para ser
explorada por capitalistas) ou Marxistas (formação e/ou formatação, por meio
das pedagogias progressistas, de indivíduos potencialmente revolucionários, ou
seja, ditos de Esquerda, preparados para resistirem aos valores do capital)?”
Certamente
que a resposta é a segunda. A pedagogia, hoje, concebida pragmaticamente como
“ciência da educação”; concebida como uma espécie de mecanismo sistemático
civilizador (tanto no sentido da preservação quanto no da mudança de status
quo), foi e continua sendo utilizada como objeto e/ou mecanismo de controle e
dominação, isto é, frise-se: utilizada como uma ferramenta política (tanto para
ideólogos ditos de Direita quanto de Esquerda), nos processos sistemáticos e
assistemáticos de manipulação e/ou cooptação das massas (chamados de
educativos).
Questionaremos
e discutiremos, nesse livro, esse caráter trágico que historicamente tem sido
dado à pedagogia (MISÉRIA DA PEDAGOGIA) e, partir daí, traremos à luz as nossas
proposições sobre educação, ou seja, o que pensamos e propomos sobre a função
social do professor e das instituições educativas no presente alvorecer do séc.
XXI.