quarta-feira, 11 de novembro de 2015

MISÉRIA DA PEDAGOGIA - PARA ALÉM DAS PEDAGOGIAS LIBERAIS E PROGRESSISTAS

DIREITA, ESQUERDA, PROMISCUIDADE POLÍTICA E EDUCAÇÃO - INTRODUÇÃO À MISÉRIA DA PEDAGOGIA

I
Não se pode, hoje, no Brasil, mais falar da existência de uma divisão radical entre modelos políticos de Esquerda e de Direita, por uma simples razão: ambas as principais ideologias (PT e PSDB) estão corrompidas em suas essências políticas.
Caso se tenha alguma dúvida, pense-se sobre o fato de que, hoje, quase nenhum candidato dito de Direita (não somente em nosso país) ousaria ter um discurso e/ou uma prática política radical em sua direção, assim como também não teriam os ditos de Esquerda, com raras exceções (como o PSTU e PC do B, etc.).
Ou seja, na mesma medida em que os governos de Direita privatizam Estatais, reduzem o Estado a mínimo e deixam agir livremente os mecanismos de mercado, criam também - no lugar de políticas públicas - medidas assistenciais paliativas e/ou, num outro viés, estimulam à sociedade a se organizar, mediante o fomento à criação de ONGs, Organizações religiosas, etc., para poderem cuidar dos ditos excluídos sociais que o próprio capitalismo fabrica.
No que se refere aos muitos governos ditos de Esquerda, não somente o PT, o processo, de forma inversa, tem sido quase o mesmo: na mesma proporção em que se criam políticas públicas; na mesma proporção em que se ampliam os investimentos em educação e/ou que se ampliam as instituições de ensino ditas públicas, na outra, paradoxalmente, também fomenta-se o desenvolvimento e a sistematização dos princípios e valores capitalistas, não somente por meio do incentivo ao consumo, transformando o cidadão num consumidor, mas também por meio das políticas de transformação de proletários em empreendedores, como hoje tem ocorrido no Brasil.
Essas distorções e/ou promiscuidades ideológicas, embora também não saibam muitos, por mais absurdo e surreal que possa-nos parecer – dizem alguns analistas - fazem parte do atual jogo político não somente nacional, mas também global.
Alguns disparates, todavia, impossíveis de se entender nos governos ditos de Esquerda aqui no Brasil, precisam ser discutidos. Por exemplo, existem várias universidades públicas que, hoje, não passam de incubadoras de empresas ou organizações capitalistas transnacionais. Além disso, tornaram-se comercializadoras sistemáticas de diplomas de cursos de pós-graduação.
Pergunta-se: Como pode uma instituição que se diz federal e/ou estadual (públicas), como a UFRJ e tantas outras, cobrar cerca de 15.000 (QUINZE MIL DÓLARES) por um único dito curso de Mestrado profissional, os chamados MBAs? Isso sem falarmos também nos cursos de especialização que, na maioria das mesmas, também são pagos.
II
No que se refere especificamente à questão educacional, penso que, o problema mais grave, hoje, não está somente na questão da volta aos processos de privatização, sejam estes com a redução de investimentos públicos no setor, sejam com novos fomentos à proliferação de novas universidades privadas, mas, também, na transformação - via processos de socialização - dos valores capitalistas, além de conteúdo-ético de Estado, também em conteúdo-ético-pedagógico das instituições de ensino.
O que talvez muitos que se dizem de Esquerda ainda não saibam é, que, hoje, o capitalismo, diferentemente dos tempos de Marx, antes mesmo de criar produtos ou serviços para serem comercializados, cria primeiro os seus respectivos públicos-consumidores.
Nesse país, como em quase todos do chamado terceiro mundo, materialmente e/ou estruturalmente falando, o número de pessoas ditas pobres, proletárias, excluídas sociais, são muito maiores que as dos ditos donos dos meios de produção da produção social material da existência. Todavia, se pensarmos por meio do ponto de vista superestrutural, por meio do que se refere aos princípios e valores, ou seja, se invertemos o conceito de sociedade civil como o fez Gramsci, especificamente no caso do Brasil, veremos que o número de pessoas que, apesar de excluídas sociais (proletárias), pensam e/ou agem como capitalistas são muito maiores.
A validade inconteste dessa premissa está no fato de que, se ela fosse pífia, em vésperas da eleição presidencial de 2014, o povo brasileiro não teria ficado tão divido entre eleger governantes do PSDB, que são de Direita (neoliberais), e os do PT, que se dizem de Esquerda, ou seja, dos trabalhadores.
Verdade seja dita: o governo do PT, ao fomentar e incentivar o empreendedorismo entre os proletários, visando, por esta via, diminuir as estatísticas de desemprego e, na mesma medida, vendendo aos pobres a ilusão de alcance da inclusão social por meio da transformação de proletários em microempresários, deu um tiro no próprio pé; se autossabotou; isto é, cortou e/ou tem cortado as asas da própria utopia Marxista na América Latina.
III
Diante dessa realidade e cenário ultrajante de promiscuidade ideológica e política, torna-se imprescindível repensar os modelos ditos de educação que até hoje tem-se tido no Brasil, ao que já perguntamos:
“A educação tem cumprido de fato o seu papel de contribuir para a construção dos processos de humanização e superação humanas (tanto no sentido singular quanto enquanto espécie) ou, num outro trágico e catastrófico viés, apenas sistematicamente servido como égide para formar e/ou formatar sujeitos, em diferentes espaços-tempo, nas doutrinas Liberais (formação e/ou formatação de mão de obra barata para ser explorada por capitalistas) ou Marxistas (formação e/ou formatação, por meio das pedagogias progressistas, de indivíduos potencialmente revolucionários, ou seja, ditos de Esquerda, preparados para resistirem aos valores do capital)?”
Certamente que a resposta é a segunda. A pedagogia, hoje, concebida pragmaticamente como “ciência da educação”; concebida como uma espécie de mecanismo sistemático civilizador (tanto no sentido da preservação quanto no da mudança de status quo), foi e continua sendo utilizada como objeto e/ou mecanismo de controle e dominação, isto é, frise-se: utilizada como uma ferramenta política (tanto para ideólogos ditos de Direita quanto de Esquerda), nos processos sistemáticos e assistemáticos de manipulação e/ou cooptação das massas (chamados de educativos).
Questionaremos e discutiremos, nesse livro, esse caráter trágico que historicamente tem sido dado à pedagogia (MISÉRIA DA PEDAGOGIA) e, partir daí, traremos à luz as nossas proposições sobre educação, ou seja, o que pensamos e propomos sobre a função social do professor e das instituições educativas no presente alvorecer do séc. XXI.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Os Diferentes, Feios e/ou Belos Exclusivos

I

Os diferentes são aqueles que, nas sociedades capitalistas pós-modernas – e são a grande maioria –, estão fora dos padrões ditatoriais estéticos do que a política de consumo da Indústria Cultural sistematiza como sendo ditos padrões universais de beleza.

Eles, esses diferentes, são os homens e/ou mulheres reais, concretos (a), diferentes dos (a) da ficção.

Diferente, nesse sentido, não é, de fato, quem, ou aquele que, por um motivo e/ou vontade deliberada qualquer, pretenda sê-lo ou sê-la: 
1- Ser diferente é ser o que se é, enquanto ente singular; 
2- Ser diferente é ser um feio, belo e/ou um lindo único, exclusivo, fora dos padrões estéticos capitalistas universais e/ou globais de beleza impostos pela indústria de consumo do capitalismo.
Isto é, frise-se:

"Aquele que pretende ser diferente, feio e/ou "belo exclusivo", é apenas o imitador de um ser diferente, de um feio e/ou de um belo exclusivo, mas, nunca, de fato, um ser diferente, feio e/ou belo exclusivo."

Diferente, feio e/ou belo exclusivo, é todo aquele que, ainda que inconsciente sobre a sua diferença, feiura e/ou beleza exclusiva, contribui, de alguma forma, para que o espaço-tempo onde ele supostamente esteja alocado, enquanto corpo dito estranho: 
1- Não perca o seu potencial enriquecedor; 
2- Não perca a possibilidade de poder ser vislumbrado por outro ângulo, por outra maneira ou modo de ver; 
3- Não perca a possibilidade de poder ser tomado, enquanto interação social, por um espaço-tempo de diálogos, como forma de se abominar a violência, entre todos os diferentes nele alocados; 
4- Não perca a capacidade de, por ser um espaço-tempo de coexistência, promover-se essa mesma interação; 
5- Não perca a capacidade de se tolerar os outros diferentes, feios e/ou belos exclusivos que nesse mesmo espaço supostamente estejam.

Pensa-se aqui que:

"Só onde (no espaço-tempo) existem seres humanos diferentes, feios e/ou belos exclusivos, o amor verdadeiro pode surgir, permanecer e se tornar o valor supremo de afirmação da vida."

Os diferentes, feios e/ou belos exclusivos estão todos aí: 
1- Os altos demais; 
2- Os pequenos ao extremo; 
3- Os belos diferentes; 
4- Os belos maltrapilhos; 
5- Os com narizes muito finos; 
6- Os com narizes muito largos;
7- Os com narizes normais onde reinam narizes grandes ou pequenos; 
8- Os magros; 
9- Os gordos; 
10- Os sem cabelo; 
11- Os com cabeleiras; 
12- Os muito bem vestidos; 
13- Os vestidos de farrapos; 
14- Os tímidos; 
15- Os extrovertidos; 
16- Os trabalhadores; 
17- Os sonhadores; 
18- Os esperançosos; 
19- Os realistas; 
20- Os que amam e não são amados; 
21- Os que são amados e não amam; 
22- Os que gostam de cantar; 
23- Os que preferem ouvir; 
24- Os que vivem para trabalhar;
25- Os que trabalham para viver e etc.

Como já antes dito, mas que aqui ainda faz-se necessário redizer, diferente de fato não é quem, nem tampouco aquele que, movido por um objetivo ou desejo qualquer, pretende ou pretenda sê-lo. Isto é, frise-se:

"Aquele que pretende ser diferente é apenas o imitador de um ser diferente, mas nunca um ser diferente de fato." (Artur da távola)


II - CONCLUSÕES


Existem muitas formas de desumanização e, uma delas, talvez a mais crucial, seja aquela que está sistematizada no desrespeito às diferenças, na medida em que esse desrespeito - no sentido micro - leva o indivíduo para longe da sua capacidade de coexistir e, consequentemente, para longe da possibilidade de aprendizagem, crescimento e desenvolvimento pessoal; no sentido macro, leva a sociedade para xenofobismos, nacionalismos exacerbados, genocidismos, biocidismos, apartheids, exclusão socioeconômica e para formas unilaterais e ortodoxas de ver o mundo, culminando em guerras, conflitos armados, ódio e posições políticas e/ou religiosas radicais.

Todavia, não se pode e não se deve perder a esperança, ainda que, para muitos, ela, a busca pelo respeito às diferenças soe apenas como sendo mais uma grande utopia. Ou seja, é preciso que ainda se acredite que o homem pode qualitativamente transformar-se. É preciso que se acredite que, como nos diria Nietzsche, "o homem pode e precisa ser superado".



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* Esse artigo é parte integrante do livro "A ARTE DE COEXISTIR: RESPEITO ÀS DIFERENÇAS" à venda pela livraria cultura.