segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

NIETZSCHE: PARA ALÉM DO BEM E DO MAL OU PARA ALÉM DO BOM E DO MAU?


Escreveu o filósofo Immanuel Kant:

“Ignorância é fazer uso nocivo das próprias forças e/ou forças alheias contra si mesmo e/ou contra o próximo. Sabedoria, por outro lado, é fazer uso benéfico... Das próprias forças e/ou forças alheias a favor de si mesmo e/ou a favor do próximo".

Moral: segundo Kant, "se um homem de fato é sábio, ele não usa a sua inteligência ou sabedoria para o mal; se um homem pratica o mal, ele está longe de ser um sábio...”.

Problematizou tal questão porém Nietzsche, fazendo-nos pensar sobre a moral abstrata e/ou sobre a ideia de imperativo categórico postulada por Kant:

1-   O que é o mal?
2-   O que é o bem?

E concluiu Nietzsche, após especular a história através do seu chamado método genealógico:

1-   O bem e o mal não são nada mais do que apenas os seus sentidos e os seu valores; Ou seja:
2-   “O homem, para poder se libertar da moral dos escravos, que apenas tem, ao longo dos séculos, o despotencializado ou enfraquecido, precisa estar e/ou viver para além do bem e do mal!”.

Nietzsche, todavia, ao criticar Kant, deixou em muitos uma grande dúvida:

“Estar e/ou viver para além do “bem” e do “mal” é o mesmo que estar e/ou viver para além do “bom” e “mau”?...”.

Em outras palavras, estar e/ou viver além do bem e do mal é o mesmo que colocar-se na condição de assassino, corrupto, ladrão, pedófilo e/ou então de qualquer outro ser dito imoral, antiético e/ou criminoso?

Certamente que não!

Para Nietzsche o homem precisa colocar-se na condição daquele que se faz capaz de transvalorar todos os valores, ou seja, de imprimir sentido à vida. E os caminhos para isso não os do crime e/ou os das ditas imoralidades, mas sim os da arte e da filosofia.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

POR QUE OS HOMENS SE ANIMALIZAM & OS ANIMAIS NÃO SE TORNAM HOMENS?


 SINOPSE

“POR QUE OS HOMENS SE ANIMALIZAM E OS ANIMAIS NÃO SE TORNAM HOMENS?” – assim como dezenas de outras importantes obras do autor – nasceu a partir de uma releitura: da necessidade de dar-se um novo sentido ao dito paradoxo existente entre os pensamentos de dois grandes filósofos: Aristóteles, pensador de origem Macedônica, discípulo divergente de Platão, da Grécia antiga, (a.C.); e Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo existencialista do século XX.
Ontologicamente, tal problemática está situada entre duas distintas teorias do ser: A de Aristóteles, centrada nas concepções do Ato e da Potência, caracterizada pela ideia da finalidade do ser, ou seja, fundamentada em axiomas relativos “ao que o ser pode ou não vir a ser a partir da constatação do que ele é”; e a concepção de Sartre, contrária a de Aristóteles, que preconiza que “o ser é o que é”, ou seja, que não é um ser fechado em si, em uma natureza, mas aberto para uma Condição Humana.

Sobre a Coleção

Há algum tempo tivemos a ideia de realizarmos uma criteriosa análise em relação a obras que chegavam às nossas mãos pleiteando publicação e, assim, escolhendo as melhores, publicá-las, autor por autor, algumas em edição bilíngue, numa coleção chamada “FILÓSOFOS DO NOSSO TEMPO”. E hoje ela finalmente está aí, trazendo o melhor dos filósofos contemporâneos para vocês.
A cada nova publicação ou edição, temos descoberto excelentes pensadores. Filósofos que possuem não somente excelente formação, mas também a capacidade de, com as suas ideias, nos fazerem pensar de maneira crítica, dando-nos a possibilidade de compreendemos e resolvermos de maneira mais eficiente e eficaz os problemas do nosso tempo.
Se você acredita ser também um “filósofo do nosso tempo”, envie-nos seus textos para análise.
Os editores
SOBRE O AUTOR

Cleberson Eduardo da Costa (mais de 100 livros publicados, muitos deles traduzidos para outros idiomas), natural do Rio de Janeiro, é graduado pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro/1995-1998), Pós-graduado em educação (UCAM – Universidade Candido Mendes), Pós-graduando em Filosofia e Direitos Humanos (UCAM – Universidade Candido Mendes), Mestre e Doutor (livre) em Filosofia do conhecimento (epistemologia) e Pedagofilosofia Clínica (FUNCEC - pesquisa, ensino e extensão), Pesquisador, Professor universitário, Especialista em metodologia do ensino superior, Licenciado em Fundamentos, Sociologia, Psicologia e Filosofia da educação, Didática, EJA (educação de Jovens e adultos) etc.
Além disso, foi aluno Especial do Mestrado em Educação(1999-2001/PROPED/UERJ), matriculado, após aprovação em concurso, nas disciplinas [seminários de pesquisa] “ESTATUTO FILOSÓFICO” (ministrado e coordenado pela professora Drª Lilian do Valle); e “POLÍTICAS EDUCACIONAIS NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA” (ministrado e coordenado pelo professor Dr. Pablo Gentili).    Estudou também no curso de MBA em Gestão Empresarial pela FUNCEFET/RJ/Região dos Lagos (2003-2005); no curso de Pós-Graduação em Administração e Planejamento da Educação pela UERJ (1999-2000); e realizou vários cursos livres e/ou de aperfeiçoamento nas áreas da filosofia e da psicanálise por instituições diversas, entre elas a FGV (Fundação Getúlio Vargas) e a SBPI (sociedade brasileira de psicanálise integrada).
De 1998 a 2008, atuou como professor de ensino superior (Instituto Superior de Educação da UCAM/universidade Cândido Mendes) nos campus universitários de Niterói, Nova Friburgo, Araruama, Rio de Janeiro, Teresópolis, Rio das Ostras, etc. Participou (em sua trajetória profissional e/ou intelectual acadêmica) de diversas pesquisas, como, por exemplo, o projeto UERJ-DEGASE, relativo à (EJA) e também em pesquisas centradas em problemáticas políticas, filosóficas e pedagógicas com professores renomados, como Pablo Gentili (UERJ/CLACSO), Cleonice Puggian (UNIGRANRIO), Carla Imenes (UEPG), Cristiane Silva Albuquerque (UERJ), Marco Antonio Marinho dos Santos (OCA/RJ) entre muitos outros. Escreveu trabalhos como “a caridade da educação e a educação da caridade”; “metodologia participava”; “fundamentos epistemológicos de Aristóteles”, etc.
Escreveu os seguintes livros:
1- Pedagogia da mediocridade;
2- Catástrofe na escola: a negação consentida de direitos;
3- Humanização & Emancipação intelectual;
4- Aprender a aprender;
5- Segredos da superação;
6- Segredos da prosperidade;
7- A complexidade do óbvio;
8- Chip da ignorância;
9- Amar se aprende amando;
10- Teoria filosófica da existência de Deus;
11-  Praga dos (a) mal-amados (a);
12-  Pérolas de Nietzsche;
13-  Sábios, prósperos e felizes;
14-  Emancipados & Medíocres no amor.
E também muitos outros.
Atualmente dedica-se à docência universitária; a pesquisas em educação; a consultorias relativas à educação, no sentido do aprimoramento, da superação e do desenvolvimento humano; à realização de palestras acadêmicas e multiorganizacionais e à produção de obras nos mais diversos campos do saber.

sábado, 1 de dezembro de 2018

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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

GLOBALIZAÇÃO, INTERNET E OS NOVOS ANALFABETOS FUNCIONAIS – Problematizações acerca da educação


I
Não é preciso ser um pedagogo, professor ou especialista em educação para, hoje, alvorecer do séc. XXI, ser capaz de reconhecer um novo tipo de analfabeto funcional[1] que tem surgido no mundo dito globalizado e, mais especificamente, como mera consequência de um subdesenvolvimento histórico, de maneira mais abrangente, também em países da América do sul, como o Brasil.
Nesse último caso, basta fazer parte de qualquer rede social da internet ou assistir vídeos no youtube que, rapidamente, descobre-se uma quantidade incomensurável deles. E isso devido a dois óbvios, mas nem por isso menos trágicos ou complexos motivos:
1- O primeiro porque, contrariando-se o princípio e/ou método filosófico (irônico e maiêutico) Socrático (sei apenas que nada sei), substanciados apenas pela doxa (opinião, aquilo que Platão, discípulo de Sócrates, chamava de realidade sensível, caverna ou mundo das sombras e das inverdades), eles, os novos analfabetos funcionais, acreditam-se também entendedores de tudo, de qualquer assunto: deste futebol, passando por dicas de saúde e beleza, e até mesmo sobre o como ficar rico em no máximo sete ou dez dias (ainda que tendo-se nascido um miserável);
2- O segundo, porque acreditam também que ninguém mais precisa aprender a pensar para viver, buscando-se, por exemplo, fazer pesquisas sérias e sistemáticas que levam anos; e nem tampouco estudar ou ler livros que não sejam de autoajuda ou ficção. Para eles, os analfabetos funcionais de hoje, contrariando a lógica de todas as epistemologias críticas do conhecimento, basta apenas se encher de pensamentos já pensados por outros, oriundos de fontes da própria internet, e depois reproduzi-los ou propagá-los, feito papagaios ou máquinas de ensinar, com um novo rótulo ou título apelativo, por meio de frases ditas virais e/ou de um “produto” digital qualquer.
II
Dentro desse contexto, obviamente, surge também um fato novo em relação aos antigos que caracteriza os novos analfabetos funcionais: se no século XX eles eram entendidos e definidos por especialistas como aqueles que não sabiam bem escrever; e que também não entendiam o que liam ou, entendendo o que liam, não conseguiam se expressar graficamente e fazerem relações com a realidade, os de hoje, por outro lado, “são aqueles que, ao parcamente lerem, ou ao precariamente decodificarem o que leem, além de não saberem se expressar oral e/ou graficamente, por falta de uma sólida formação cultural, não conseguem também, de forma crítica ou criativa, fazerem relações do que leem ou das informações que recebem com a realidade local e, ao mesmo tempo, também global, isto é:
1-   Com a árvore e a floresta;
2-   Com as realidades micro e macrossociais existentes, esboçando-se, por exemplo, uma visão crítica e/ou um juízo de valor.
Nesse sentido, pode-se e deve-se também dizer que, hoje, alvorecer do séc. XXI, um dito indivíduo considerado analfabeto funcional é não mais somente aquele que possuía ou possui dificuldades de leitura e escrita, ou até mesmo aquele dito ser com pouco estudo, que não possuía dito nível de escolaridade ou diplomas, mas sim todo aquele que, diplomado ou não, não consegue ler o mundo e, que, portanto, faz-se também incapaz de transformar-se e/ou de lutar para poder transformá-lo em um lugar mais humano, justo, equitativo, participativo, fraterno, solidário, respeitoso das diferenças e ético de se viver.
III
Numa outra via, um ser considerado analfabeto funcional nos dias de hoje, tempo de globalização; tempo de altas tecnologias da informação; tempo de redes sociais e de amplos espaços virtuais de interação social e/ou ditas possibilidades incomensuráveis de ensino-aprendizagem:
1-   É também todo aquele que, dotado do automatismo para buscar sempre se encher de informação, confundindo-a com sabedoria, não se fez ou não se faz também capaz de fazer-se autônomo intelectualmente, isto é, de fazer-se capaz de aprender a pensar de forma crítica e autônoma;
2-   É também todo aquele que sobrevive em estado de conformidade ou passividade intelectual, por fazer-se cheio de novas informações, alienadamente acreditando-se, por esse motivo, estar também hiperconsciente ou sábio.

II - A VERDADEIRA EDUCAÇÃO

A verdadeira educação, ao contrário do que muitos hoje acreditam, não é um processo heterônomo, ou seja, não é aquilo que, vindo de fora, como força externa, sob a forma de saberes enlatados (frases soltas de redes sociais, vídeos da internet, clichês, etc.), formata, compacta ou programa o ser para ter essa ou aquela visão de mundo; formata, compacta ou programa o ser para emitir essa ou aquela opinião; formata, compacta ou programa o ser para agir dessa ou daquela maneira, formando-se, por esta via, uma massa de seres programáveis ou programados, isto é, que apenas reproduzem “saberes” por outros já pensados.
A verdadeira Educação não é também, nesse sentido, um mero processo de formação cultural, dito de socialização. Ou seja, não é um processo de enchimento do ser com preceitos ditos éticos e/ou morais, etc. que, como se fossem camisas de força ideológicas coletivas, formatam os indivíduos ou grupos de indivíduos para pensarem ou agirem desse ou daquele jeito.

II.1 - A educação para além dos preceitos de Immanuel Kant
I
A educação, nos dias de hoje, século XXI, está e deve estar muito além dos ditos “quatro passos educacionais” outrora definidos por Immanuel Kant, em especial na sua obra intitulada “Sobre Pedagogia[2], publicada postumamente.
Para aqueles (a) que não conhecem o pensamento educacional kantiano, aqui vai uma rápida síntese.
1-   “Disciplina”: Segundo Kant, é onde a animalidade do homem é reprimida para que o seu caráter possa vir a ser desenvolvido;
2-   Cultura: é o que, segundo Kant, torna o ser humano um ser dito culto, depois de disciplinado, para que ele possa ter possibilidades múltiplas e para muitos fins;
3-   Civilidade: Para Kant, é aquilo que seria uma espécie de cultura dita mais refinada, isto é, que preza os ditos bons costumes, as convenções, as cerimônias sociais, etc. (Ex: gentileza, prudência, ser um dito bom cidadão, etc.);
4-   Moralização: é, segundo Kant, a última etapa do processo dito formativo; é aquilo que, para ele, seria a dita etapa mais importante da educação, porque o agir humano deve estar fundado em imperativos categóricos, ou seja, o ser deve pensar por si, mas sendo capaz de escolher os ditos bons fins para todos os seus atos, evitando-se, assim, agir buscando fins pessoais ou que atentem contra a dignidade humana.
Em síntese, para Kant, a educação é aquilo que estabelece um padrão ético ou moral-cultural (dito universal), estruturado sob a forma de imperativos categóricos (ações com fins em si mesmas). O indivíduo, segundo Kant, deve seguir valores universais. Ser um ser dito “autônomo”, dentro da perspectiva Kantiana, dentro desse contexto, seria o mesmo que internalizar imperativos categóricos e ser também capaz de agir, com bases neles, diferentemente das crianças, sem ninguém precisar mandar.

II.2 – A educação, muito além dos preceitos de Kant, como um processo dialógico-dialético de luta pela conquista da autonomia ou da emancipação intelectual

A educação, nos dias de hoje, diferentemente do que pensou Kant e muitos outros formalistas que o seguiram, é e deve ser entendida como aquilo que acontece quando o ser – sob processos dialógicos e/ou dialéticos, ocorridos estes em espaços-tempos existenciais concretos de ensino-aprendizagem, exercendo a sua liberdade para pensar, tem a possibilidade, fazendo uso do pensamento crítico, de desenvolver a sua autonomia intelectual, de construir a sua própria visão de mundo, e, portanto, também de fazer-se capaz de refletir sobre o sentido das suas próprias condutas ética e/ou morais.
Pode-se com propriedade afirmar, nesse sentido, que um verdadeiro processo educacional, muito além de um mero processo de formação Kantiano (cultural/ética/moral), é aquilo que pode levar uma vida, e não necessariamente o tempo de uma sistemática formação ou socialização escolar ou universitária, porque visa fazer com que o sujeito possa ser capaz de pensar ou refletir para agir, acompanhando sempre as dinâmicas sociais, e não de se tornar um dito ser “formado ou formatado”.
Ou seja, a educação, hoje, sec. XXI, deve ser entendida como um caminho dialógico e dialético, vivido e problematizado, de transição da heteronomia (espaço-tempo em que não se pensa de forma autônoma; e que apenas se obedece às regras de forma irreflexiva ou se segue o pensamento de um grupo, etc.) para a, diferentemente daquela postulada por Kant, verdadeira “autonomia”: espaço-tempo em que o ser, fazendo uso da própria capacidade para pensar ou refletir, em processo individual ou coletivo-dialógico, passa a desenvolver o gosto pelo aprender a pensar ou por agir e/ou tomar decisões refletidas, levando-se em consideração não apenas o aspecto formal ou formalista da ação (imperativos categóricos), mas também e impreterivelmente o concreto ou existencial. 


[1] O conceito de analfabetismo funcional foi criado na década de 30, nos Estados Unidos, e posteriormente passou a ser utilizado pela UNESCO para se referir às pessoas que, apesar de saberem ler e escrever formalmente, por exemplo, não conseguem interpretar o que leem e nem tampouco compor e/ou redigir corretamente qualquer tipo de texto. Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, o analfabetismo funcional é considerado um problema significativo em todos os países industrializados ou em desenvolvimento. Mais de um terço da população adulta brasileira é considerada analfabeta funcional. Fonte: MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete analfabetismo funcional. Dicionário Interativo da Educação Brasileira - Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001.
[2] Kant, Immanuel (1724 -1804). Sobre a pedagogia. Tradução de Francisco Cock Fontanella. 2ª Ed. Piracicaba: Editora Unimep, 1999.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A JUSTIÇA BRASILEIRA NO ESPAÇO-TEMPO DAS NOVAS REPÚBLICAS


I
Juízes – aqueles das novas Repúblicas – não são pessoas ou profissionais inidôneos, indecorosos, sem caráter, ausentes de ética, corruptos, levianos, alienados, psicopatas ou sociopatas potenciais que perseguem cidadãos em virtude de suas diferentes etnias, grupos culturais, classes sociais, ideias, ideais ou ideologias...
Juízes – aqueles das novas Repúblicas – não condenam pessoas sem provas, “fundamentados” apenas em convicções, evidências, impressões, delações premiadas, preconceitos ou ilações.
Juízes – aqueles das novas Repúblicas – são os seres, acreditam-se os próprios; e também todos aqueles que deles dependem ou que lhes devem algum tipo de favor, mais sábios ou hiperconscientes que existem: colocam, segundo “pensam que pensam”, qualquer dito filósofo como Aristóteles[i], Kant, David Hume[ii], Nietzsche[iii], Edmund Husserl[iv] etc. no chinelo.
Aristóteles, por exemplo, como é sabido, há tempos escreveu:
“A verdade é a adequação do pensamento à coisa real...”.
Um certo juiz de uma dessas novas Repúblicas, porém, ao tardiamente tomar conhecimento da máxima Aristotélica, contrariando-o, imediatamente retrucou dizendo:
“A verdade, ao contrário do que teorizou Aristóteles, é a adequação do que se conjectura, sente-se, imagina-se ou deduz-se que seja real ao pensamento.”
David Hume, filósofo empirista, cético-relativo, defendeu a tese de que as “evidências ou impressões, quando trabalhadas apenas pela nossa imaginação ou racionalidade, sem uma devida adequação do pensamento à coisa real, conduzem-nos a ilusões, divagações e/ou a falsas impressões da realidade”.
Nietzsche, na mesma linha de Hume, complementando-o, dizia que “as convicções (quando fundamentadas apenas em evidências e/ou impressões) são mais inimigas da verdade do que as mentiras”.
Um outro juiz também de uma mesma dessas novas Repúblicas, colega de ofício do primeiro, todavia, quando leu Hume e Nietzsche, imediatamente deles também radicalmente discordou, dizendo:
“As evidências e/ou impressões são elementos cabais, conteúdos inquestionáveis de provas; e as convicções, criadas a partir delas, consequentemente, tornam-se incontestáveis, pois ao juiz cabe o Direito inalienável de formá-las (convicções)”.
Immanuel Kant, outro filósofo cético-relativo, certa vez escreveu, no seu livro Crítica da razão pura, que “não podemos conhecer as coisas em si, mas apenas como elas são e/ou estão para nós”.
Edmund Husserl, estudioso de David Hume, Immanuel Kant e Franz Brentano, criador do Método Fenomenológico, numa crítica a todas as correntes que preconizavam e/ou que preconizam a ideia do possível alcance de uma dita verdade absoluta, afirmava, em síntese, que “toda consciência é consciência “de”, ou seja, doadora de sentido...”.
Um terceiro Juiz (aposentado dessas mesmas referidas novas Repúblicas), antigo colega e professor dos dois primeiros anteriormente citados, ao tomar conhecimento das ideias de Kant e Husserl, numa conferência que reunia membros da sua mesmíssima casta, linhagem ou estirpe, efusivamente externou:
“Edmund Husserl nunca soube o que dizia. Na verdade, contra fatos não há argumentos... Os fatos, sabemos todos nós, os juízes, falam por si mesmos... A verdade, sabemos todos nós, os juízes, é uma mentira que nunca consegue se esconder...”.
Em síntese, os Juízes, aqueles das novas Repúblicas, são seres, acreditam-se os próprios; e também todos aqueles que deles dependem ou que lhes devem algum tipo de favor, oniscientes: os seres mais sábios que existem.
E exatamente por acreditarem-se oniscientes, os mais sábios de todos os seres, creem-se, naturalmente, sempre também os mais éticos. Isto é:
1-   Juízes – aqueles das novas Repúblicas – não se aliam a empresários, a grupos econômicos, a emissoras de TV ou às mídias em geral, promovendo espetáculos de dita justiça como se fosse uma forma primitiva de buscar fazer justiça com as próprias mãos a partir de cartas marcadas (se os juízes da nova República fazem isso, segundo a acreditada e dita sabedoria ética deles, “é porque acreditam também, na mesma via, tais quais os seres de espíritos totalitários [fascistas, nazistas, etc.], que os fins justificam os meios”);
2-   Juízes – aqueles das novas Repúblicas –, propagandeiam sistematicamente os seus seguidores nas redes sociais e etc., são pessoas e/ou profissionais em quem plenamente se confia, se deve, ou se pode confiar; são pessoas ou profissionais de quem sempre se espera ou se pode esperar, sem falhas de caráter, sem fazer acepção de pessoas, sem demonstrarem lados, sem conluios, justiça em suas sempre sábias decisões;
3-   Juízes – aqueles de todas as novas Repúblicas – diziam, por exemplo, os sem-teto de um prédio em São Paulo por eles habitados, e obrigados a dele saírem em virtude de uma decisão judicial, “são seres, para nós, ditos reles mortais, sempre mais próximos da perfeição: são pessoas ou profissionais acima de quaisquer suspeitas – incorruptíveis...”.
MORAL:
Se um juiz qualquer, de qualquer uma das ditas novas Repúblicas, por exemplo, pedir (sem precisar enviar forças de coação e/ou coerção) a um homem do povo para dar-lhe ou doar-lhe o seu único filho como sacrifício, tal qual fez Abraão, esposo de uma mulher estéril, com o seu filho Isaac, em troca de alguma promessa, o mesmo o fará, e sem titubear...
II
Um dia desses, o que não é novidade para quase ninguém, soube-se do caso de um Banco cujos herdeiros, como hobby, produzem filmes ou documentários – e existem incontáveis casos similares – que, por meio de um dos seus inúmeros escritórios de advocacia, entrou com processos na justiça visando recuperar o automóvel de um cliente que, após ter dado uma entrada de 30% do valor do bem adquirido, financiado o restante em 48 meses, quitado 38 parcelas, não conseguiu mais pagá-lo em virtude do desemprego.
“O que um dito sábio e justo Juiz de uma dessas novas Repúblicas fez?” – O óbvio, é claro! Ou seja, seguindo à risca o seu ofício, obedecendo às ditas “justas” leis Neorrepublicanas (nova constituição, com seus respectivos códigos liberais, etc.), mandou o oficial de justiça apreender o veículo do tal “cidadão” inadimplente em sua residência, levando o mesmo a leilão (o que acorreu, como sempre tem ocorrido em casos da mesma natureza, sem nenhuma transparência). Mesmo após o tal leilão, entretanto, o homem ainda ficou devendo, e com o nome sujo, informou-lhe o lucrativo banco do qual era cliente há mais de 15 anos.
Ou seja, sem Juízes sábios, oniscientes, justos, as novas Repúblicas em que hoje vivemos não funcionariam. Imaginem, se possível, uma sociedade “justa” como a nossa, conseguir continuar sendo “justa tal como é” sem a atividade sempre tão imparcial, decorosa, legal e incorruptível dos juízes ou magistrados Neorrepublicanos?
Imaginem uma sociedade em que aqueles criminosos que foram flagrados com malas de dinheiro, gravados pedindo propina etc., alegando depois pifiamente terem caído em armadilhas, estivessem agora “injustamente” presos, não fosse a atuação sempre tão correta, imparcial, incorruptível, sábia, decorosa e justa dos juízes ou magistrados Neorrepublicanos?
Imaginem uma sociedade em que aqueles políticos ditos pela grande mídia serem criminosos de alta periculosidade não tivessem, antes mesmo do trânsito em julgado, sido eficazmente “pré-condenados” (e presos), com o aval do STF?
Imaginem uma sociedade em que outros políticos flagrados (com provas cabais) cometendo crimes de corrupção, alegando depois terem caído em armadilhas, não tivessem sido tão eficientemente absolvidos pelo STF, e muitos deles conseguido até mesmo se reelegerem nas eleições de 2018.
Essa sociedade, como prediz a emissora de TV que há tempos governa “lucrativamente” todas as novas Repúblicas no Brasil, sem dúvidas, certamente não seria o paraíso de justiça (em todos os sentidos) e ausência de corrupção que hoje é.
Poderíamos, aqui, buscando alongar a discussão, até mesmo citar a proteção sistematicamente orquestrada que os ditos sábios, imparciais e justos sistemas de justiça, coação e/ou coerção das novas Repúblicas têm dado às ideias e práticas de políticos que pregam a violência, o ódio, que proferem discursos fascistas, racistas; e que dizem, inclusive, que as mulheres devem ganhar menos do que os homens porque engravidam, porque são menos inteligentes, etc.
Por hora, entretanto, penso que é melhor darmos uma pausa, degustarmos algo, procurarmos tomar um café. Difícil mesmo, penso, será conseguirmos realizar a digestão (a do texto é claro!).




[i] Aristóteles (em grego clássico: Ἀριστοτέλης; transl.: Aristotélēs; Estagira, 384 a.C. — Atenas, 322 a.C.) foi um filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande. Seus escritos abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia e do drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Juntamente com Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia ocidental. Em 343 a.C. torna-se tutor de Alexandre da Macedônia, na época com treze anos de idade, que será o mais célebre conquistador do mundo antigo. Em 335 a.C. Alexandre assume o trono e Aristóteles volta para Atenas onde funda o Liceu.

[ii] David Hume (Edimburgo, 7 de maio (ou 26 de abril-Antigo) de 1711 – Edimburgo, 25 de Agosto de 1776) foi um filósofo, historiador e ensaísta britânico nascido na Escócia que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu ceticismo filosófico. Ao lado de John Locke e George Berkeley, David Hume compõe a famosa tríade do empirismo britânico, sendo considerado um dos mais importantes pensadores do chamado iluminismo escocês e da própria filosofia ocidental. David Hume opôs-se particularmente a Descartes e às filosofias que consideravam o espírito humano desde um ponto de vista teológico-metafísico. Assim David Hume abriu caminho à aplicação do método experimental aos fenômenos mentais. Sua importância no desenvolvimento do pensamento contemporâneo é considerável. Teve profunda influência sobre Kant, sobre a filosofia analítica do início do século XX e sobre a fenomenologia. Obras:            A obra filosófica de Hume tem duas fases: há uma obra pretensiosa feita na juventude, que é o Tratado da Natureza Humana. Hume negaria esta obra, e publicaria outros títulos filosóficos que integrariam os Ensaios e tratados sobre vários assuntos.

[iii] Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, Reino da Prússia, 15 de outubro de 1844 — Weimar, Império Alemão, 25 de agosto de 1900) foi um filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX, nascido na atual Alemanha. Ele escreveu vários textos críticos sobre a religião, a moral, a cultura contemporânea, filosofia e ciência, exibindo uma predileção por metáfora, ironia e aforismo.

[iv] Edmund Gustav Albrecht Husserl (1859 — 1938) foi um filósofo e matemático alemão que fundamentou as bases epistemológicas da escola da fenomenológica, rompendo com a orientação positivista da ciência que influenciava ou estruturava a filosofia de sua época. Desenvolveu, sendo assim, importantes críticas ao historicismo e ao psicologismo na lógica. Não se limitando ao empirismo, mas acreditando que a experiência é a fonte de todo o conhecimento, criou um método de redução fenomenológica, a chamada redução eidética. Nasceu em uma família judia, porém foi batizado, em 1886, como luterano. Estudou matemática nos termos de Karl Weierstrass e Leo Königsberger, e filosofia sob Franz Brentano e Carl Stumpf. Inicialmente Husserl ensinou filosofia como professor não remunerado na Universidade de Halle-Wittenberg em 1887. Anos depois como professor titular: primeiro na Universidade de Gotinga em 1901; depois, na Universidade de Friburgo (Alemanha de 1916), até sua aposentadoria (1928). Após esse período, realizou duas palestras notáveis: a primeira em Paris, em 1929; e a segunda em Praga, em 1935. As notórias leis raciais do regime nazista de 1933, porém, tiraram sua situação acadêmica e privilégios. Na sequência de uma doença, morreu em Friburgo (1938).



sábado, 17 de novembro de 2018

Saber é Poder: O Básico que você precisa saber para não ser um alienado


INTRODUÇÃO


(a5, 215 páginas) Não resta-nos dúvidas de que Saber é Poder”, frase esta proferida por Francis Bacon (1561-1626), um dos fundadores do chamado método indutivo de investigação científica.  No mundo em que se vive, todavia, marcado este pela exclusão social, pela ideologia, pelo individualismo, pelo consumismo, pela meritocracia, pela xenofobia, etc., segundo tem-nos demonstrado os resultados de diversos estudos e pesquisas por nós realizados nos últimos anos, pode-se com propriedade afirmar, existem hoje cinco formas distintas de alienação e/ou de ausências de saber-poder, ou seja, de ditos ídolos, tais quais aqueles descritos por Bacon, F., e que se devem buscar superar, a saber:
1 – A alienação em relação a supostas e ditas capacidades ou incapacidades inatas, relativas à aprendizagem, à inteligência e/ou ao desenvolvimento da racionalidade, dadas entre os homens de diferentes classes ou grupos socioculturais. Ou seja, a alienação em relação às ideias de que se é de fato verdadeiro que alguns homens nascem inteligentes e/ou racionais e outros não (muitas vezes utilizadas estas pelas elites conservadoras para poderem justificar as desigualdades sociais, não somente no Brasil, mas em escala planetária).
2- A alienação sobre as reais causas das condições de exclusão social dos indivíduos pertencentes à sociedade civil, ou seja, a ausência do entendimento de que se vive, enquanto proletário e/ou cidadão-consumidor, além de na condição de escravo assalariado do capital, também refém dos juros e das regras de consumo do mercado capitalista;
3- A alienação sobre a condição de analfabeto político, isto é, a ausência da compreensão de que não existem mais diferenças essenciais entre ditos políticos/partidos ditos de direita e de esquerda; a ausência da compreensão de que a democracia representativa não é democracia de fato, isto é, de que ela não funciona na prática, etc.
4 – A alienação sobre a necessidade e/ou a importância de se desenvolver a tolerância, o respeito às diferenças e/ou aos diferentes, sejam elas e/ou eles de que naturezas forem, uma vez que o homem, como certa vez afirmou Aristóteles, é também um ser social e um animal político;
5 – A Alienação sobre a necessidade e/ou importância de se buscar desenvolver a consciência crítica de si e de mundo, estando-se dentro ou fora das instituições ditas educativas.
II
Em outras palavras, um ser, hoje, alvorecer do séc. XXI, considerado possuído por ídolos (no sentido de possessão espiritual, já que em filosofia espírito significa ideia), alienado e/ou destituído de saber-poder, entre outras coisas, é aquele que:
A – Desconhece suas potencialidades humanas. Ou seja, desconhece tudo o que, ele, exatamente por ser Homo Sapiens (diferente dos ditos animais irracionais), e independentemente das suas diferenças socioculturais, pode vir a ser.
B – É e/ou está excluído (socialmente falando), mas não sabe as razões e/ou os porquês da sua condição de exclusão social/pobreza e nem tampouco como sair dela (muitos inclusive ainda hoje acreditam que as suas exclusões sociais são frutos de uma espécie de sina, do pecado, da falta de sorte, da suposta falta de inteligência, etc.).
C – É analfabeto político, mas não sabe que o é. E, o pior de tudo: acredita que as decisões políticas, na maioria das vezes, não têm nenhuma ou quase nenhuma relação intrínseca e/ou direta com as causas da sua condição social de exclusão, etc.
 D – É xenófobo, etnocêntrico e/ou desrespeitoso das diferenças por pura convicção; por pura ideologia de grupo ou de classe; por achar que algumas etnias e/ou culturas, como a sua, são melhores do que as de outras. Por outro lado, quando se vê em situações de discriminação por causa da sua condição social, cultural e/ou de cor, paradoxalmente, defende discursos igualitários;
F – É um indivíduo que, na condição de compartilhador das ditas verdades e/ou saberes que circulam no senso comum, não possui desenvolvidas as consciências críticas de si e de mundo (exatamente por alienadamente acreditar que estas se deem por meio da leitura de jornais, revistas, noticiários de TV, rádio e internet e/ou porque já se deram ou também se dão a partir de um mero acesso e/ou alcance do dito sucesso nas instituições ditas educativas, ao receberem os seus ditos diplomas, depois de por elas serem ditos formados/formatados).
III
Na unidade I, sendo assim, epistemologicamente fundamentados em Nietzsche, Heidegger, Aristóteles e outros, traremos saberes que, ao mesmo tempo em que clarificam-nos sobre as diferenças essenciais existentes entre homens e animais, delineiam também um caminho relativo a tudo o que o homem de fato pode ou não pode vir a ser a partir da constatação do que ele é, independentemente de suas diferenças socioculturais, ainda que condicionado por elas.
Na II, traremos saberes para que o indivíduo, a partir deles, possa não somente compreender, mas também se libertar da sua condição de exclusão social ou pobreza; na III, para que ele possa se tornar mais atento e/ou participativo das questões políticas, uma vez que estas possuem uma ligação direta com as suas condições de vida; na IV, para que ele possa (ao conscientizar-se; ao entender a importância do respeito às diferenças), abdicar de ser um Ser xenófobo, etnocêntrico, genocida ou biocida potencial; na V, finalizando, para que ele possa buscar ser capaz de desenvolver a sua consciência crítica de si e de mundo rumo ao resgate da sua condição de sujeito pensante, ou seja, de emancipado intelectual.
Esperamos que, esse livro, assim como todas as obras do autor, possa contribuir à formação de uma geração mais crítica, mais humana, politicamente participativa, socialmente equitativa, tolerante, respeitosa das diferenças e, na mesma via, mais autônoma e transformadora da realidade social de si e do mundo em que se vive.
O autor



quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O FILÓSOFO IRÔNICO: ensaios, aforismos, contos, crônicas e poemas

PREFÁCIO
O QUE É IRONIA?

I
Ironia, talvez desconheçam muitos, não é sinônimo de sarcasmo. Por isso mesmo, nem de longe deve ela ser confundida com zombaria.
Sarcasmo e/ou zombaria são formas, mesmo que algumas vezes ditas cômicas, de humilhar e/ou ridicularizar alguém ou alguma ideia.
A ideia de ironia vem do grego antigo “ερωνεία” (“eironēia”) e significa, em síntese, “dissimulação'”. É entendida, conceitualmente, todavia, de duas formas distintas: a ironia filosófica; e a ironia literária.
1-   Na forma filosófica, embora existam outros filósofos considerados irônicos (Voltaire, Kierkegaard, etc.), o conceito de ironia está especificamente atrelado ao filósofo Sócrates, introduzido este por Aristóteles, entendido como Método Socrático. Este, por sua vez, refere-se especificamente ao recurso epistemológico utilizado por Sócrates, descrito nos diálogos platônicos, e que, em síntese, significa simular ignorância, isto é: fazer perguntas fingindo aceitar as respostas do interlocutor (oponente), até que este chegue a uma contradição e perceba, dentro do processo dialógico ou mesmo fora dele, os paradoxos, disparates ou absurdos do seu próprio raciocínio. Sócrates, sendo assim:
a-   Criou um método de busca pelo conhecimento, e não propriamente uma figura de linguagem;
b-   Criou um caminho, pode-se dizer didático, sem ridicularizar quem quer que fosse, para poder questionar, contradizer, refutar, problematizar, e, na mesma via, ir de encontro à construção de conceitos;
c-   Criou uma técnica filosófica para poder romper com o estado aporético, ou seja, com o impasse na busca do entendimento, visando sempre trazer à luz (maiêutica) o axioma (teoria da reminiscência).
2-   Na forma literária, por outro lado, a ironia apresenta-se como um modo de expressão ou figura retórica por meio da qual se busca dizer o contrário daquilo que se quer dizer. Isto é, por meio do uso dela, cria-se uma pausa visando buscar a reflexão do leitor ou interlocutor: uma reflexão sobre aquilo que se escreve ou diz e aquilo que realmente se pensa. A ironia, dentro desse contexto, é muitas vezes usada como forma de crítica, censura ou denúncia.
II
Tanto dentro do conceito de ironia filosófica quanto literária, porém, existem três diferentes tipos de expressões ou manifestações irônicas, a saber:
1- A ORAL: é quando alguém quer dizer uma coisa mas diz outra, ou seja, fala o contrário do intencionado.
2- A DRAMÁTICA OU SATÍRICA: Numa cena ou diálogo, a plateia ou outro ouvinte qualquer entende o significado da situação, palavra ou expressão usada – menos o interlocutor ou personagem.
3- A DÍSPARE OU DE DISPARIDADE: o resultado da ação, algumas vezes cômico, outras trágico, é diferente ou contrário ao planejado ou esperado. Muitos, diante desse tipo de ironia, habituaram-se a, por exemplo, chamá-la de “ironia do destino”.
III
O livro, uma antologia de ensaios, aforismos, crônicas, contos e poemas, aborda temáticas diversas: política, justiça, educação, economia, aspectos sociais, machismo, feminismo, amor, felicidades, etc.
Embora traga algo de provocação em viés literário, a ideia (ou o sentido) de ironia nele contido é filosófica, ou seja, está ancorada nos axiomas ou princípios maiêutico-metodológicos de Sócrates.
O autor
    
Sobre a Coleção

Há algum tempo tivemos a ideia de realizarmos uma criteriosa análise em relação a obras que chegavam às nossas mãos pleiteando publicação e, assim, escolhendo as melhores, publicá-las, autor por autor, algumas em edição bilíngue, numa coleção chamada “FILÓSOFOS DO NOSSO TEMPO”. E hoje ela finalmente está aí, trazendo o melhor dos filósofos contemporâneos para vocês.
A cada nova publicação ou edição, temos descoberto excelentes pensadores. Filósofos que possuem não somente excelente formação, mas também a capacidade de, com as suas ideias, nos fazerem pensar de maneira crítica, dando-nos a possibilidade de compreendemos e resolvermos de maneira mais eficiente e eficaz os problemas do nosso tempo.
Se você acredita ser também um “filósofo do nosso tempo”, envie-nos seus textos para análise.
Os editores